segunda-feira, 6 de julho de 2009

Clara Nunes e a sua pérola "Alvorecer".



Trinta e nove anos foram o suficiente para Clara Nunes escrever o seu nome na história da Música Popular Brasileira.
A maior cantora de samba que o Brasil já teve, silenciou-se no sábado de Aleluia de 1983, após uma mal-sucedida operação de varizes.
Mas fato é que a voz da cantora nascida na cidade mineira de Paraopeba, nunca foi esquecida.
Aos 17 anos, quando trabalhava como tecelã, além de cantar em coral de igrejas, Clara ganhou um contrato na TV Inconfidência, de Minas Gerais, após um disputado concurso, sendo considerada, por três anos consecutivos, a maior cantora de Belo Horizonte.
Nesta época, a sambista (que, na verdade, ainda não era sambista) converteu-se ao candomblé e era "crooner" em boates.
Cinco anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, e começou a se apresentar constantemente na TV Continental.
Em 1966, a cantora fechou contrato com a gravadora Odeon, e gravou o seu primeiro álbum, "A Voz Adorável de Clara Nunes", composto, basicamente de sambas-canções e boleros.
Em 1968, veio o seu primeiro sucesso, "Você Passa Eu Acho Graça", de Carlos Imperial e Ataulpho Alves.
Mas foi apenas no seu quarto disco, "Clara Clarice Clara" (1972), que a mineira "descobriu" vários compositores ligados a escolas de samba e voltou-se basicamente para o samba - estilo musical que permearia sua carreira até o derradeiro álbum "Nação" (1982) -, gravando músicas de Cartola, Candeia e Nelson Cavaquinho.
Mas foi em 1974 - mesmo ano em que apresentava o espetáculo "Brasileiro Profissão Esperança", ao lado de Paulo Gracindo, que conta a vida dos compositores Antônio Maria e Dolores Duran, e um ano após o célebre espetáculo ao lado de Toquinho e Vinícius de Moraes, "O Poeta, a Moça e o Violão" ? que Clara Nunes gravou o principal disco de sua carreira, que se tornou primeiro lugar em vendas no Brasil, com mais de 400 mil cópias vendidas em poucos meses.
O disco "Alvorecer", que traz em sua capa uma foto da cantora em cena no festival do MIDEN, em Cannes, na França, consolidou o nome de Clara Nunes como a principal cantora de samba do Brasil.
Produzido por Milton Miranda e tendo como arranjadores Orlando Silveira, João Donato, Carlos Monteiro de Souza e Hélio Delmiro, o disco é um verdadeiro inventário do que era produzido em termos de samba, naquele tempo.
A união da orquestra de metais e cordas com a percussão na primeira faixa do álbum, "Menino Deus", de Paulo Cesar Pinheiro (que no ano seguinte casou-se com Clara) e Mauro Duarte, já dava uma pista do que seria encontrado nas outras faixas do disco: samba de primeira qualidade com arranjos maravilhosos e uma voz única.
A canção de abertura do álbum, aliás, já havia sido defendida por Clara, no II Encontro Nacional do Compositor do Samba, em 1973, na quadra da Portela.
Infelizmente, a música ficou em segundo lugarJá "Samba da Volta" ("Você voltou, meu amor / A alegria que me deu / Quando a porta abriu / Você me olhou / Você sorriu / Ah, você se derreteu / E se atirou"), composta por Vinícius de Moraes e Toquinho no ano de lançamento do disco é bem mais suave que a anterior, cheia de cordas ao fundo, regidas pelo maestro Carlos Monteiro de Souza.
"Meu Sapato Já Furou" ("Meu sapato já furou / Minha roupa já rasgou / E eu não tenho onde morar / Meu dinheiro acabou / Eu não sei pra onde vou / Como é que eu vou ficar?") possui um belo cavaquinho e um pandeiro ao fundo em seu início.
Na segunda metade da canção de Mauro Duarte e Elton Medeiros, tudo se transforma, e uma verdadeira bateria de escola de samba mostra porque "Alvorecer" é considerado um dos melhores discos de samba da história.
O mesmo pode ser dito com relação à faixa-título, presente de Yvone Lara para Clara Nunes.
Outros sambas de raiz também fazem parte do disco, com especial destaque para "Conto de Areia", o maior sucesso da carreira de Clara Nunes.
O ponto de macumba, de autoria dos compositores portelenses Romildo e Toninho, possui um dos mais famosos refrãos da história do samba: "É água no mar, é maré cheia ô / Mareia ô, mareia".
Outras canções, mais puxadas para ritmos afros também fazem parte do LP e se tornaram marcas registradas no repertório de Clara, como "Sindorere" e "Nanaê, Nanã Naiana".
A faixa "Punhal", com uma bonita letra de Paulo César Pinheiro e uma intricada melodia de Guinga, é a mais lenta do disco.
Apenas um violão e uma orquestra de cordas fazem desta canção um bom momento para o ouvinte respirar.
Além de Clara Nunes cantar canções de compositores que estavam surgindo àquela época, ela também aproveitou para prestar uma homenagem a dois mestres da MPB.
A gravação de "O Que é Que a Baiana Tem?", de Dorival Caymmi, é de uma graça e um frescor impressionantes.
Basta ouvir a voz de Clara para ver a sua alegria ao regravar a canção.
Já Luiz Gonzaga aparece aqui com a sua "Pau de Arara", cujo arranjo mistura triângulo, zabumba, instrumentos de percussão típicos do samba e cavaquinho. De quebra, uma orquestra de cordas para tudo ficar ainda mais bonito.
Um verdadeiro "sambaião" digno de qualquer antologia da Música Popular Brasileira.
Na contracapa do álbum, Adelzon Alves escreveu: "Esse disco acabará de fixar, definitivamente, esta imagem áudio e visual de cantora essencialmente brasileira, que Clara Nunes vem assumindo".
De fato, "Alvorecer", até hoje, é considerado o trabalho mais importante da rica discografia da sambista portelense.
Pena que sua carreira foi tão curta.
Faixas:
1) Menino Deus
2) Samba da volta
3) Sindorere
4) O que é que a baiana tem?
5) Meu sapato já furou
6) Punhal
7) Alvorecer
8) Nanaê, nanã naiana
9) Conto de areia
10) Pau-de-arara
11) Esse meu cantar
Colaborador:
Alex Acioli/Macapá

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